Nesses mais de 10 anos atuando como Terapeuta Ocupacional nas áreas adulto e idoso, muito raro encontrar em minha prática adultos com deficiência intelectual que saibam a importância dos documentos no exercício da cidadania e tenham o hábito de usar o RG toda vez que saem de casa.
O mais comum é a mãe ou responsável legal andar com os documentos da pessoa que tem a deficiência intelectual por medo dela perder o documento. Em alguns poucos casos, tal conduta pode até ser necessária e permanente. Contudo, observo que é mais uma preocupação aliada ao não saber como introduzir esse “cuidado diário” e até subestimação da real capacidade da pessoa com deficiência intelectual.
Isso acontece com mais frequencia quando essas pessoas com deficiência intelectual estão matriculadas em uma instituição ou escola especial. Mas, também é comum acontecer aqui no meu consultório e nos casos que realizo a inclusão no mercado de trabalho.
Em grupos e na terapia individual, sempre converso com eles para ver se os mesmos têm ao menos a ideia do perigo em andar sem o documento mesmo que seja para ir até uma padaria no próprio bairro. A grande maioria tem a compreensão de que podem ser confundidos com outra pessoa e serem levados pela polícia, que podem passar mal e ir para o hospital e a família demorar para ser acionada e pouquíssimos sabem da possibilidade de um acidente ou mal subido que os leve a morte.
Claro que estamos aqui falando daqueles que tem um certo grau de compreensão e função cognitiva mais funcional. Correto?
Mesmo assim, o que se tem como cenário é uma dificuldade em oportunizar esse aprendizado e crescimento, ensinando-os a cuidar do documento, a importância do mesmo, principalmente para os meninos adultos e de como se criar o hábito de levar o documento sempre que sair de casa, de preferência ser perder o mesmo.
Falamos tanto em inclusão, em oportunizar espaços, em escola acessível, trabalho, acesso a informação e agora com tantas outras possibilidades reais e finalmente garantidas pela Lei Brasileira de inclusão 12.146 de 2015, como poder do voto, de constituir família, ter acesso a planejamento familiar, poder adotar, ser empreendedor etc, percebe-se que ainda o básico no que se refere ao exercício da cidadania ainda precisa ser trabalhado.
Se você é pessoa com deficiência intelectual e esta lendo esse artigo ou familiar responsável e deseja saber sobre essa possibilidade de aprender a importância desse e de outros documentos civis, de como expedir esses documentos, como criar o hábito de cuidar dos seus documentos que o caracteriza oficialmente como um cidadão, procure um Terapeuta Ocupacional, que nós podemos auxiliá-los nesse processo de adultização e inclusão social.
E, vamos andar com o documento!
Patricia de Oliveira
Consultora em Inclusão
Atendimento clinico para adultos e idosos
Terapeuta Ocupacional – CREFITO 10356-TO

