Já reparou que a maioria das pessoas fica aborrecida com os sinais do envelhecimento? Sejam os primeiros fios de cabelos brancos, a gravidade agindo nos seus corpos, as rugas do rosto ou simplesmente a dificuldade em fazer as coisas rotineiras como quando mais jovens. São poucas as pessoas que conseguem conviver com tais mudanças sem transtornos, mas elas existem.Os padrões de beleza de nossa sociedade cultuam um modelo praticamente inalcançável e, quase sempre, jovem. Supervalorizamos a juventude. E, se os próprios jovens sofrem para alcançar este padrão de beleza, imagine aqueles que já têm na cronologia do tempo as marcas e sinais de experiência neste mundo?
O nosso corpo conta histórias de nossas vidas. Nossas conquistas, vitórias, fracassos e recomeços. Então que transformação é essa que está acontecendo em seu corpo e fazendo com que você se aborreça com seu reflexo?
Envelhecer não é só a chegada de malefícios à sua saúde ou isolamento do mundo, ou mesmo a hora de esticar um pouco a pele aqui ou ali ou se aposentar de tudo. O importante é entender que o tempo passa e não é possível manter a imagem jovem para sempre. Não é possível viver uma eterna juventude.
Temos conhecimento do ciclo da vida: nascer, crescer, envelhecer e morrer. São fatos. Começamos a envelhecer assim que nascemos.
Para o Dr. Drauzio Varella, “Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época.”
Portanto, nada pode ser mais ofensivo na velhice quando se ouve dizer que “Ele é velho mas ele tem cabeça de jovem”. É o mesmo que considerá-lo inadequado do que um jovem de 20 anos que não se comporta como deve ser, mas como uma criança de dez anos.
O envelhecimento nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, da contradição, do” tenho mais para aprender” uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos quando iniciamos essa caminhada lá no nosso nascimento.
Eu ainda quero soprar todas as velinhas que a vida venha me acrescentar. Quero todos os momentos vividos, experiências adquiridas e escolhas feitas que nos dão o peso necessário à nossa bagagem. Quero prosseguir. Correr atrás dos sonhos ainda não alcançados. Continuar envelhecendo com o tempo cronológico dos dias pois meus anseios são muitos e tenho muitos planos ainda. Pois a velhice deve ser contextualizada, ligada não apenas ao tempo biológico, mas a um pensar no envelhecimento enquanto processo do ciclo da vida, uma velhice que queremos e vivemos.
Cintia Cristiane Monteiro
Psicóloga – CRP 06/76447