Perder o emprego pode ser uma das ocasiões mais dolorosas e traumáticas podendo afetar todos os aspectos da vida, assim como as relações interpessoais, causando sentimentos de ira, inadequação, medo, vergonha, fracasso, isolamento e constrangimento. De fato, ao ficar desempregado por muito tempo, a pessoa pode desenvolver uma depressão situacional.
Pois esta é uma das maiores experiências de modificação de vida que alguém pode enfrentar. Seu impacto negativo só é superado pela perda de um ente querido ou pelo rompimento da família.
Muitos profissionais sentem que depois da morte de um filho ou de um divórcio, a perda do emprego é, provavelmente, a ocasião mais terrível da vida.
O que torna a perda do emprego tão traumática é o golpe devastador que isso dá à autoestima. Quando se é demitido, qualquer que seja a razão, a mensagem implícita ou subliminar que se recebe é: “Sou um fracasso. Não sou suficientemente bom. Não importa se há crise econômica, se eu fosse mesmo bom, eles teriam me mantido”.
Cada pessoa pode reagir de maneira diferente a uma perda que, para ela, tenha um valor importante. Os estudos de Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004) consideram cinco fases que, de maneira geral, compõem o processo do luto:
– Negação: a pessoa tenta negar a existência do problema ou situação e, às vezes, evita até falar sobre o assunto. “Isso não pode ser verdade!”, pensa.
– Raiva: é comum aparecer revolta e ressentimento quando a pessoa se dá conta da perda. “Por que eu?” É o pensamento recorrente.
– Negociação: quando a hipótese da perda começa a se concretizar, é comum que a pessoa tente reverter a situação tentando um acordo consigo, com outra pessoa ou divindade.
– Depressão: ocorre quando a pessoa toma consciência de que a perda é inevitável. Tristeza, desolação, apatia e medo são sentimentos comuns nessa fase. Não deve ser confundida com a doença diagnosticada como depressão, que envolve um desequilíbrio químico e tratamento específico. Por isso, a psicóloga Elaine prefere usar o termo “tristeza”.
– Aceitação: é a fase em que pessoa aprende a viver sem aquilo que perdeu. Não significa esquecer ou não sentir mais tristeza ao se lembrar do fato. “Um pai nunca vai aceitar a morte de um filho”, exemplifica a psicóloga Elaine. Nesse contexto, aceitar é apenas conseguir continuar tocando a vida.
Essas fases não devem ser vistas como obrigatórias e também não seguem necessariamente uma sequência. Podem, inclusive, se sobrepor umas às outras.
Alguns psicólogos dizem que as pessoas mais resilientes tendem a reagir melhor ao luto pois geralmente enfrentam melhor as situações de perda. O conceito de resiliência, aqui emprestado das ciências físicas, é utilizado para definir essas pessoas que lidam bem com situações adversas.
Alcançar uma nova oportunidade após uma demissão é uma tarefa que requer disciplina, pois encarar boletos e negociar dívidas é a rotina de um profissional desempregado. Para muitos, vivenciar a experiência do desemprego é um desafio árduo, que pode tirar a pessoa de seu objetivo, especialmente quando as dívidas se acumulam e a família precisa cortar despesas e reduzir seu padrão de vida. É nessa hora que muitos profissionais entram no que se convencionou chamar de ‘luto demissional’, uma situação que pode se tornar depressiva e dificultar a conquista de uma nova vaga.
A perda repentina do emprego pode levar ao isolamento. Quando uma pessoa passa por um divórcio ou outras experiências dolorosas, tende a compartilhar a dor com aqueles em quem confia. Ela conversa com colegas de trabalho, amigos e familiares. Consequentemente, há sempre alguém para confortá-la e aconselhá-la. Seja um familiar, um amigo ou um psicólogo. De modo inverso, quando a pessoa perde o emprego, a última coisa do mundo que deseja é dizer a alguém o que aconteceu, temendo que os outros possam considerá-la uma fracassada. Ela entra em um processo de silêncio e introspecção e termina por isolar-se justamente das pessoas que estariam mais dispostas a ajudar. Infelizmente, essa tendência de se esconder atrás das barreiras que ela mesma cria e de limitar a interação social é negativa na busca de outro emprego. Pode aumentar muito a dificuldade de sua busca. Uma pesquisa aponta que 70 a 80 por cento de todas as vagas de emprego são preenchidas por pessoas que fazem uma rede de contatos.
Ir ao psicólogo? Como? Não tenho como pagar e ainda não estou louco!. Recorrer a ajuda de um especialista pode ser uma boa maneira de recuperar sua autoestima e motivação.
Algumas dicas:
– Saber superar não requer treinamento. Entretanto, superação é uma atitude decisiva nesse momento. Pequenas ações no dia a dia podem amenizar e até encurtar a busca pela recolocação no mercado de trabalho, como procurar por emprego.
– Procurar emprego é um trabalho que exige dedicação, persistência, fé, otimismo e muita energia. Um dia após o outro nessa jornada e você se recolocará. O tempo pode variar porque depende de muitos fatores que não estão sob controle, como cenário político e econômico, oferta de vagas em seu segmento e em seu nível hierárquico, sua própria qualificação frente aos requisitos exigidos atualmente.
Você quer empreender ou trabalhar de forma autônoma? É uma possibilidade que deve ser considerada, trace seus objetivos de curto, médio e longo prazo.
Agir o mais depressa possível. Superar o luto demissional rapidamente, percebendo que essa é uma situação da vida, ajuda a pessoa a se fortalecer e alcançar seus objetivos.
– Atualize o currículo de forma que evidencie bons resultados a quem for ler, conte com um networking bem feito e elegante, seja solidário nas redes sociais.
– Se o desempregado tiver condições, é interessante buscar orientação de carreira para tirar todas as dúvidas, construir uma boa apresentação e sair-se bem nas entrevistas. Agir rapidamente e encarar o desemprego sem se abalar ajuda a aliviar o estresse e melhora as chances de recolocação.
Cintia Cristiane Monteiro
Psicóloga clinica e Consultora Organizacional.
CRP 06/76447

